'Quase 100% da carne comprada pelo Carrefour França é produzida na França', diz gigante do varejo após fala polêmica de CEO
21/11/2024
Diretor-executivo da gigante francesa disse, na quarta-feira (20), que a gigante do varejo vai interromper compras de carne do Mercosul. Companhia esclareceu que medida vale apenas para os supermercados franceses, mas não afeta em nada os países sul-americanos. Imagem do logotipo do Carrefour.
Reprodução/x
"Quase 100% da carne comprada pelo Carrefour França é produzida na França", disse ao g1 a assessoria de imprensa do Carrefour Global nesta quinta-feira (21), um dia depois de o CEO da companhia, Alexandre Bompard, ter anunciado que as lojas do grupo iriam parar de comprar carne do Mercosul.
Na ocasião, Bompard não detalhou quais unidades da rede de supermercados adotariam a medida. Nesta quinta, o Carrefour Global explicou que a paralisação vale apenas para as lojas da França.
Apesar disso, quase a totalidade das carnes que os supermercados franceses compram é da própria França, conforme detalhou a companhia nesta tarde, após o g1 questionar a quantidade do produto adquirida pela companhia do Mercosul e do Brasil.
Portanto, a medida não deve ter impacto para os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
Fala de CEO e protestos na França
O anúncio do CEO do Carrefour Global foi feito em suas redes sociais, em carta direcionada um sindicado agrícola, durante o 3º dia consecutivo de protestos de agricultores franceses.
Os produtores rurais do país são contra o acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. Um dos receios deles é de que o tratado torne os produtos agrícolas sul-americanos mais baratos no território, reduzindo a competitividade das mercadorias europeias.
As manifestações ocorreram em meio à passagem de autoridades da UE pelo Rio de Janeiro, para o encontro do G20, que aconteceu nos dias 18 e 19 de novembro. O acordo, negociado há mais de 20 anos, é apoiado pelos governos da Espanha e Alemanha, mas sofre oposição do presidente da França, Emmanuel Macron.
Se aprovado, o tratado vai facilitar a entrada, na Europa, de mercadorias como carne bovina, frango, açúcar, milho e soja, produtos que o Brasil lidera na exportação.
Agro e governo brasileiros reagiram
A medida anunciada pelo CEO do Carrefour Global repercutiu negativamente entre as associações brasileiras e sul-americanas do agronegócio, assim como no Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (Mapa).
Na quarta-feira (20), o Mapa declarou que vê protecionismo na ação da França e que rechaça as declarações do CEO do Carrefour.
"O Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor", disse o Ministério.
A pasta afirmou ainda que o Brasil atende aos padrões "rigorosos" da União Europeia e que o bloco compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade das carnes do país.
O que disse o agro do Brasil
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) também lamentou a declaração de Bompard e disse que o posicionamento do CEO "é contraditório, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carnes brasileiras".
A instituição destacou ainda que a medida coloca em risco o próprio negócio, uma vez que a produção local não supre a demanda interna.
Segundo a Abiec, em 2023, o Brasil respondeu por 27% das importações de carne bovina da União Europeia e o Mercosul, por 55%.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) também lamentou o ocorrido e disse que os argumentos são equivocados ao afirmar que as carnes produzidas pelos países-membros do Mercosul não respeitam os critérios e normas do mercado francês. "A argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas", diz nota.
Produtores rurais do Mercosul também reagiram
A Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm) também repudiou, nessa quinta-feira (21), a fala de Bompard.
"Os produtores rurais da Farm e suas entidades aqui representadas não aceitarão ataques injustificados e se reservam o direito de reagir de maneira firme, seja por vias econômicas ou institucionais, para proteger a imagem e os interesses do setor agropecuário de seus países."
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